Tania acordou ou caiu no sono, como todos os dias.
Foi até o banheiro e se olhou no espelho
Perguntou para si mesmo quem era
Respondeu sorrindo e seu reflexo ouviu
Olhou fundo nos seus olhos
E viu em suas pupilas lembranças de seu passado
Das loucuras que fizera
Dos amigos que a salvaram
Dos que a deixaram
Dos que zombavam das remelas nos seus olhos
Lavou o rosto
Estava nostálgica
Tomou os remédios
que destacavam o peso da idade sobre os ombros
Olhou o corpo mal-dormido
de camisola comprida, do pescoço até os joelhos
e tentou calcular quanto tempo fazia
que não vestia um vestido decotado
uma saia curta
um sapato aberto
E lembrou das festas de seu último emprego
onde os convidados a julgavam
com palavras azedas
Escovou os dentes
Sentou no vaso
e pela primeira vez percebeu
o quanto havia se limitado
por gente que lhe abria os braços
e enquanto acreditava receber um abraço
estava sendo proibida de passar
Ligou o chuveiro e se despiu
Se olhou no espelho
e decidiu que os desaforos que carregava na memória
eram mentiras
Se levou pra cama
e consumiu seu desejo por um eu melhor
Descobriu mais uma vez que se amava
E foi comprar um vestido
mesmo com o saldo zerado
da conta de uma recém-desempregada
Anita acordou ou caiu no sono, como todos os dias.
Foi até o banheiro e se olhou no espelho
Porque às vezes
o amor está a apenas um reflexo
31 janeiro 2007
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7 comentários:
omg, muito bom fou @@
"e pela primeira vez percebeu
o quanto havia se limitado
por gente que lhe abria os braços
e enquanto acreditava receber um abraço
estava sendo proibida de passar"
^ Melhor parte \o/
tb achei essa a melhor parte :)
naum me olhei no espelho ainda hj (8:20, ainda eh mtu cedo).
Vou fazer uma macumba pra tu ir no planeta
Ist Tania gestörben? :P
Que lindo Fou... No Words
Opa, li isso faz um tempo e fiquei de comentar, aí resolvi passar aqui descaradamente pra pedir pra tu ir lá no QM e ler meu post, mas pensei que seria justo se eu comentasse o seu antes. Oh well.
Gostei principalmente da estrutura do poema. Nada de uniformidade, nada de padrões - um tipo de "prosa em verso", se é que isso faz algum sentido hehe.
O modo que você fala da intimidade dela de uma forma direta também é marcante... quase rude (não me lembro de muitos outros poemas que descrevem diretamente o ato de sentar no vaso. :P )
Isso pra não falar do tema do poema em si, claro, a comercialização da vida, atual como nunca. Muito bem retratado, o lance da mulher excluída desse culto se virando para o comércio para se curar. Bastante paradoxal.
E acho que deu pra perceber que eu me dou melhor resenhando filmes do que poesias. =D
agora paça la nu mey koe rsrsrs
Me fez pensar que eu preciso melhorar muito...
realmente, o amor esta num reflexo, e eu amo a pessoa errada...
bjos
opa... estou passando pra dar uma espiada!
Tania e Anita, anagramas!
Reflexos realmente...
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