28 maio 2007

Marco




...polo! ...polo! ...POLO!

POOOOOOOOOOOLO, CARALHO!

20 maio 2007

Catarse


baixo
pra
cabeça
de
vida
minha
virou
alguém

10 maio 2007

Darwin estava certo

Uma fábula recomendada para maiores de 16 anos.


Flurzy era uma lagarta. Verde, gorda e deprimida.

Acordava e já estava cansada. Bastava ela lembrar que ia passar outro dia comendo folhas verdes, numa floresta verde, com insetos verdes, e ficava mais verde ainda: de enjôo. Suas amigas haviam virado borboletas há algum tempo, enquanto ela continuava condenada a comer mais e mais verde. Olhava todo o dia suas verdes e aladas amigas e pensava que nunca iria ter aquela liberdade. E vivia se torturando por isso.

Até que um dia Flurzy resolveu que ia ser feliz. E resolveu procurar ajuda. Lembrou-se de cara de uma de suas melhores amigas da floresta. Shamoo, a simpática vaca que vinha tomar água nas redondezas. Se arrastou, se arrastou, e encontrou a velha conhecida.

- Oi Shamoo! - falou a pequena lagartinha antes de se engasgar com um pedaço de folha.

- Oooooooooooi! - respondeu a vaca - Tuuuuuuudo bem?

- Mais ou menos, Shamoo... Eu andei pensando... O mundo mudou muito ultimamente, minhas melhores amigas viraram borboletas, parte da floresta foi queimada, mas tem uma coisa que está me irritando. Por que tudo tem que ser tão verde? É tudo igual, todos os dias eu faço a mesma coisa, como a mesma coisa, durmo o mesmo tempo. Mal posso esperar para sair voando por aí.

A vaca ruminou um pouco antes de responder.
- Caaaaaaaaaalma Flurzy. O mundo muda muito, mesmo, mas no fundo, continua sempre igual. Eu mesma me enjôo um pouco deste lugar. O que eu procuro é ir para outro lugar, conhecer outros bichos, cruzar umas cercas de fazendas... e depois me sinto muito melhor. Você pode mudar de ares sem precisar criar asas. E dê tempo ao tempo! Antes que você perceba, vai estar batendo asas por lugares novos. E eu, que nem voar posso?

- É verdade! Vou procurar sair um pouco da rotina! Obrigada, Shamoo!

Flurzy foi embora. Não para procurar um modo para sair da rotina, mas porque ficou sem paciência de ouvir Shamoo. Ela já tinha pensado em quebrar a rotina e dar tempo ao tempo há semanas! Insatisfeita, foi procurar conselhos com Jojo.

Chegando perto da casa de Jojo, já podia ver sua cauda multicolorida, por detrás da grade. Jojo era um pavão de cativeiro: vivia em uma grande gaiola e tinha um dono humano. Predominantemente verde, mas muito simpático. Depois de Flurzy contar como se sentia, Jojo respondeu:

- Mas você está tão bem! Eu como só alpiste e nunca me faltou nada! E por acaso suas amigas deixaram de te visitar depois que viraram borboletas?

- Na verdade sim, Jojo. Todas, menos uma: a Glória. Adoro ela... é a única que não me trata como suas outras amigas! Ela não discrimina ninguém por causa de sua espécie.

- Ai, por favor né Flu?

- Que foi?

- Vamos combinar! Todo mundo sabe que a Glória não tem escrúpulos! Pelo amor de Deus, ela é apaixonada por um cavalo e se mistura com as cobras mais falsas da floresta. Ela não discrimina nem você nem ninguém!

- Nossa, amigo, que rude!

- Mas é verdade, Flu! Os bichos são diferentes e tem um jeito de se tratar cada um. Não posso abanar a cauda para um touro, a menos que eu espere morrer pisoteado. Não é preconceito, é juízo, senão a gente perde os critérios. Você mesma não começou a tratar suas amigas borboletas diferente?

- Sabe de uma coisa? Você tem razão.

Feliz com os conselhos de Jojo, embora Flurzy achasse que ele deveria se escutar um pouco mais e falar um pouco menos complicado, a lagarta foi resolver o último de seus problemas. Não gostava de ser VERDE. Havia verde o suficiente naquela floresta. Pensou, pensou, e quando já estava anoitecendo, lembrou de alguém com uma cor no mínimo interessante.

Izzi era um gato branco e laranja. Vivia escondido em um casebre abandonado no meio da floresta, com medo. Sempre viveu perigosamente. Sua coragem causava inveja e todos sabiam que ele conhecia partes da floresta que talvez nenhum outro animal se arrisque a ver. Só que essas aventuras lhe custaram 6 de suas 7 vidas. E agora só lhe restava o medo de perder a última. Só saía a noite, desde então. Com os olhos tão arregalados que era a única coisa que ele via.

- Izzi? - perguntou Flurzy.

- Da parte de quem? - respondeu rapidamente o gato.

- Meu nome é Flurzy, sou uma lagarta, como pode ver. Queria pedir sua ajuda... eu quero mudar de cor... quero ser laranja que nem você.

- Impossível. Você está ótima verde. Não vai querer mudar. Verde é seguro. Laranja é mau.

- Mas não agüento mais tanto verde! Quero ser especial, dar um pouco de cor à esta floresta, que nem você! Quero uma cor diferente, que ninguém tenha visto!

- Todo mundo quer. Aliás, todo mundo quer tanto ser diferente, que ser diferente é querer ser igual. Mas não dá pra ser original não. Se você for um pouquinho mais longe que aqui, vai ver que já pensaram em todas as cores. "E se eu quiser ficar sem cor" você vai me perguntar. Já tem também. Chama "albino". A coisa mais original que você pode fazer é ser igualzinha a alguém. Isso realmente eu nunca vi. Alguma diferença sempre tem. Nem que seja um tom de verde diferente.

- Mas então! Quero ser laranja igualzinho a você!

- Você não vai querer ser laranja. Verde está ótimo. Olha quantas coisas verdes legais tem no mundo. É... limões! Sapos! Até camaleões, que podem mudar de cor, preferem ficar verdes quando estão relaxando! Como você explica isso? COMO VOCÊ EXPLICA ISSO? Você não vai querer laranja.

- Quer dizer que você não pode me ajudar se eu quiser virar borboleta? Se eu quiser ter uma cor bonita?

- Não posso lhe impedir. Basta que construa um casulo!

Flurzy parou por um instante. Chocada. Todo esse tempo. Nunca haviam lhe dito que ela devia construir um casulo. Agora ela entendia pra que servia a seda que ela fazia. Tudo fazia sentido.

- Izzi, muito obrigado!

- Me chame de Sid. Eles podem estar ouvindo...
E VOCÊ NÃO ME VIU!

Assim, Flurzy percebeu que todo esse tempo, o modo dela se tornar o que queria estava sempre ao seu alcance. Arrumou um lugar bem confortável e teceu seu casulo.

Poucos dias depois, Flurzy acordou de seu sono casulo. Foi a espreguiçada mais comprida do reino animal. Saiu lentamente de seu casulo. Dessa vez, não cansada, mas inspirada. Quando abriu as asas, percebeu que finalmente, havia tornado aquela floresta um lugar muito mais colorido. Suas asas eram em um tom de azul quase neon, ainda que ela nunca tivesse visto um neon. Brilhavam como as estrelas numa noite de céu limpo. Por um instante, olhou em volta e percebeu que todos ao redor a observavam com encanto, pois era uma cor que aquela floresta nunca havia visto. Não havia nada parecido. Não se cansavam de encará-la, e ela estava gostando disso.

Flurzy voou azul pela floresta, passou por árvores verdes, gramas verdes, camaleões verdes, folhas verdes, flores verdes, frutas verdes, e foi comida por um papagaio verde.


Moral da história: quem se destaca é o primeiro a ser comido.