26 dezembro 2005

Três dias em Vegas

[Post Categoria: Texto]

1º Dia - Sweet, Sweet Vegas

Depois de passar pelo trânsito selvagem, cheguei no hotel. Mandei colocarem as malas no quarto e fui direto para o cassino. Troquei um punhado de notas verdes por fichas coloridas, que de alguma forma, pareciam ter mais valor que o dinheiro em si. Andei entre as máquinas e cheguei até a mesa de pôquer.

Sentei-me de frente a uma mulher de cabelos longos e pretos, que olhava misteriosamente por cima de suas cartas. O homem ao meu lado parecia ter tudo sob controle. Parecia saber exatamente o que estava fazendo, e o número de acompanhantes que trazia só não era maior que a quantidade de fichas em sua mesa.

Iniciou-se o jogo.
Jogamos.
Muito, muito tempo.
Não sabia mais se era noite ou dia.
Na dúvida, continuei jogando.
Até que minhas fichas terminaram.

A mulher de cabelos pretos era hipnotizante, a ponto de me fazer perder a concentração em meu jogo. Não consegui ganhar uma partida sequer, mas ela me pagou alguns drinks na saída do cassino.

Ao chegar em casa, noto que meia dúzia de papeizinhos haviam sido deixados sob a porta. Recados.


Caro amigo,
Estava em Los Angeles, mas sabendo que você estava vindo para Vegas nesta
época, resolvi fazer uma visita. Não consegui avisá-lo, pois não sabia o telefone do hotel, e seu celular não atendia nunca (desconfio que tenha-o deixado em casa).
Não tive sucesso em encontrá-lo também, mas acredito que esteja se divertindo
muito. Será um tanto difícil nos vermos posteriormente, mas tenha uma boa sorte.

Sr.,
Seu corretor de ações ligou, avisando que o senhor teve um prejuízo de cerca de
300 mil dólares devido à queda de pontos de um investimento cujas ações não foram vendidas. Não foi possível entrar em contato com o senhor, pois sua linha do quarto não atendia nunca. Ele afirma ter tentado ligar para seu telefone móvel também. Caso seja necessário, podemos informar o telefone dele através da recepção.
Atenciosamente,
Administração do Hotel


2º Dia - Champagne
Fui até o bar do hotel. Era ao lado da piscina. Todos com roupas de verão, divertindo-se em um complexo aquático de piscinas brancas, com arquitetura grega. Percebo que a mulher do cassino do outro dia também estava lá. Vou até ela, e conversamos durante algum tempo.

De repente, alguém se aproxima dela, e abraça-a, como se a conhecesse há algum tempo. Um homem. Ela esquece minha companhia, e dedica sua atenção total a nova visita.

Vou até o balcão, perguntar se houve algum telefonema para mim. A atendente, muito simpática, me informa que não, mas que mandará um atendente com o telefone até o bar, caso haja algum.

Ao voltar para a piscina, percebo que ela já havia ido embora, e logo atrás de mim, estava parado um garçom, segurando um telefone. Era a própria. Perguntava qual era o número do meu quarto, e pediu desculpas, pois havia reencontrado uma pessoa muito especial. Dissera que falaríamos outro dia... Outra hora...

Já conhecia esta conversa. Resolvi deixar de lado. Fui até o cassino, tentar distrair a mente. Joguei em todas as mesas, todos os jogos. Conheci muitas pessoas com inúmeras táticas para vencer a banca, mas parecia que todas elas acabavam na mesma condição que eu: prejuízo. Joguei por horas. Não tinha noção do tempo, devido às bebidas que havia consumido, e pois o lugar não possuia janelas, mas devia ter passado lá pelo menos umas 8 horas, até que percebi que só me restava uma ficha, e resolvi parar, frente a tamanho estrago.

Ao subir para meu quarto, encontro, em cima de minha cama, uma garrafa de champagne e um bilhete.

Olá,
Estive lhe esperando a noite toda. Acreditei que fosse alguém diferente.
Amanhã, as 7:00, estarei em um vôo para Paris, à negócios. Caso não nos
encontremos até lá, boa sorte para você, nos negócios, no jogo - e no amor.

Ass. Alice, a dama de espadas.


Deitei. E dormi.

3º Dia - A vida é um jogo

Quando só temos uma ficha, apostar tudo é o mímimo que podemos fazer.
Eu apostei. E perdi.
E quando perdi, puxei o único objeto que me restara no bolso. Através do lugar todo pode-se ouvir um barulho metálico e seco, um baque surdo, um grito abafado, e a seguir, um corpo caído no chão. Matei o crupiê.

15 dezembro 2005

There is a light and it never goes out

[Post Categoria: Conclusão Empírica]

Great day was today.
Há horas venho dizendo que é um saco cair na rotina. Por mais coisas diferentes que nós façamos, depois de fazê-las duas ou três vezes, pronto! Perdeu a graça. Entre amigos, vinhamos fazendo sempre as mesmas coisas, sem perceber, conformados com o prazer que aquele pouco nos trazia. Não precisávamos de algo novo, extravagante ou excitante, bastava o clássico cinema do fim de semana, ou uma breve ida ao shopping.

Hoje, saí do estágio e fui encontrar alguns amigos. Conversamos por um instante, até que alguém mencionou de um dia irmos no parcão. Pronto. Resolvemos ir na mesma hora. Tomamos todas as decisões em questão de minutos, e estávamos organizados para ir até lá, em um ímpeto de sair pra passear. Fomos até a casa de outra amiga, e chamamos ela para vir conosco. Fomos até o parcão, corremos atrás de pombas, vimos uma garça pescar, pulamos em pneus, andamos em troncos, enfim, tudo que nunca faríamos planejadamente e etc. Foi muito simples, mas bastou sairmos do habitual pra que pouquíssima coisa voltasse a ser motivo para um great time.
Me pergunto se basta mudarmos a rotina para que nos conformemos com o prazer que pouca coisa nos traz? Acho que é uma questão de ponto de vista. Simplicidade > All

[Comentários Adicionais]
Be, Gluber, valeu o dia mesmo, curti mto ^^
Bruna Maria, Q GURIA! Devia ter ido no laguinho dos patos conosco. Perdeu o ritual de acasalamento das pombas. Fantástico, quase que uma matéria da National Geographic.
Gian, Q GURI! Ficou descansando, sua putinha relaxada. Tu não tem desculpa, não foi lá de manhã terça feira e não foi conosco tb... tsc tsc tsc... EHauehuaeaaheuA
Hb, grande parceria, foi a pé pra casa... te odeio ^^ EHAUehauEhauea nah, mas tranquilo, tu tinha coisa depois até neh... senão eu diria q tu tb foi guri e devia ter ido no parcão conosco. Espero q esteja tudo ok.
E amo vcs todos.

Detalhe que eu não consigo parar de escrever e eu tenho certeza que uma, QUIÇÁ duas pessoas lêem isso. Enfim... keep walking @ parcão ^^ EUAehaUEhuae

Espírito de Natal

[Post Categoria: Texto]

Estou escrevendo para comunicar-lhe que na segunda quinzena de dezembro, estarei saindo de viagem. Depois de passar tantos natais com você, resolvi fazer algo diferente, e já que você está cansado dessa mesmice, achei que a idéia não seria de mau gosto. Vou para minha cidade natal, passar um tempo com minha família e alguns dos meus e dos seus amigos - que também estarão por lá. Vou aproveitar para rever meu chiqueiro e tomar um belo banho de lama relaxante. Caso precise de mim, estarei de volta até a páscoa.
Boas Festas e Muitas Felicidades!

Um Abraço,

Seu Espírito de Natal






[Comentários Adicionais]
Outro textinho on the fly. Primeira vez que simplesmente tenho vontade e saio escrevendo alguma coisa. Achei pertinente, pq natal pode até ser bom pra rever a família e aquela coisa toda, mas É UM SACO, convenhamos.

Comida SECA:
- Panetone, que é um PÃO SECO, com frutas cristalizadas, que são FRUTAS SECAS
- Nozes, que é uma SEMENTE SECA
- Peru, ave de CARNE SECA
- Porco, mais SECO que o peru ainda, e também é servido FRIO (SECO E FRIO??? putz!)
Comentários do tipo: "DIOOOOGO, lembra do fulano?" (não, não lembro, e não faço questão)
Arvorezinha brilhante que VOCÊ tem que montar e desmontar pra lá e pra cá.
Papai Noel que vem para alegrar as crianças, e exige um altíssimo nível de surpresa alheio.
Músicas... de... Natal... Jingle my ass bells plx.

Ano novo então, nem se fala... UAU! A TERRA DEU UMA VOLTA AO REDOR DO SOL! YAYYYYYYY VAMOS SOLTAR FOGOS E NOS VESTIR DE BRANCO! ¬¬ tudo bem neh ehauehauehau

Postarei outra vez hoje, pois estou com muita vontade de escrever, mesmo que totalmente sem assunto. Feliz natal pra vocês.

07 dezembro 2005

O Cachorro e um Cachorro

[Post Categoria: Conto]


Mais uma vez, a rotina se repete. Madrugada de algum dia de semana, a porta abre e ele chega com uma sacola branca na mão direita. Tranca a porta novamente e caminha até o balcão de mármore da cozinha, fazendo um tilintar de objetos de plástico. Acende a luz fluorescente, criando um clarão pela casa inteira. Levanto, tento chamar a atenção, mas o máximo que consigo é um "calado". Ele esvazia a sacola sobre o balcão, começando aquele ritual sinistro como se fosse a primeira vez. Seringas, ampolas e agulhas populam a mesa como a água preenche uma bacia. Calmamente, ele quebra as ampolas uma a uma e injeta-as.

Tento esquecer. Vou até o lado da geladeira e não há comida nem água pra mim. Estou magro, definhando. Desde que cheguei aqui, todo o dia que ele abre a porta, estou esperando, aguardando notícias de como foi seu dia, alegre por sua chegada, comemorando como se fosse a última vez que ele estivesse voltando - pois tenho medo de que um dia ele não voltará mais. Tento lhe mostrar os truques que aprendi, mas a única coisa que ele aceita é que lhe traga seus chinelos.

Mas desta vez foi diferente.

Ele estava no balcão da cozinha, sentado em um banquinho de aço, daqueles com uma das pernas bambas. Olhou para mim, puxou a agulha do braço, largou tudo e me abraçou. Me abraçou como se arrependesse de tudo. E a partir daquele momento, tudo mudou.

No outro dia, ele chegou mais cedo do trabalho, com presentes. Me deu atenção, comida, água, saiu comigo, como se tentasse compensar todo o mal que ele tinha feito a si mesmo durante esse tempo todo. Eu o conheci quando ele começou a se prejudicar com as drogas. Logo quando era pequeno. Eu morava com seu amigo - um psiquiatra - que lhe dissera que eu poderia ajudá-lo. Me mudei, e desde então acompanho-o. Nunca, desde aquela época, ele tem sido tão atencioso. Prestando atenção em tudo o que faço e em todas as necessidades, retribuindo com um sorriso e pequenos gestos de alegria qualquer coisa que eu faça.

Passaram-se algumas semanas. Ele, totalmente recuperado, começou a sair com os amigos do trabalho. Freqüentemente aparecia em casa com mulheres (lindas por sinal). Parecia outra pessoa. Até que percebi o que estava acontecendo.

Ele havia descoberto o valor da vida. Ele havia descoberto o quanto tudo era importante, que ele estava se prejudicando esse tempo todo, enquanto tanta gente tentava lhe dizer o quanto ele era importante - inclusive eu. Em compensação, ele passou a retribuir a essas pessoas, enquanto eu, seu mais fiel companheiro, foi deixado de lado.

Mais uma vez, ele deixou de prestar atenção aos meus truques. Quando rolava, sentava, deitava, lhe trazia o jornal. Por maiores que fossem minhas habilidades, elas não eram mais necessárias. Me tornei inútil. Indesejável, pois ele tinha coisas mais importantes à fazer. Tinha amigos que nunca falaram com ele quando ele mais precisou, e agora cairam na sua vida como uma formiga entra em um piquenique. Passou a chegar de madrugada denovo, mas sem a sacola de plástico branco. Emanava um forte cheiro de bebida, passava reto por mim, ainda que eu pulasse e agitasse a cauda, e ia direto pra cama.

Mais uma vez, meus pratos ao lado da geladeira ficaram sem comida e água.
Se pra cada vencedor, deve haver pelo menos um perdedor,
Será que para cada ser feliz, deve haver um infeliz?