21 dezembro 2006

Espírito de natal 2

ro.ti.na s.f., caminho já trilhado e sabido; hábito de
fazer as mesmas coisas ou sempre da mesma maneira; fig., uso geral;
prática constante; índole conservadora ou oposta ao progresso; aversão às
inovações;

É uma festa religiosa tradicional, linda época para passar junto com a família. Ainda que isso signifique aturar seu tio rotineiramente bêbado atazanando as visitas ou os parentes que dividem o tempo entre o natal de duas famílias, dando o ar da graça por valiosíssimos minutos de suas vidas. Mas é claro que isso são coisas superficiais perante o real significado do natal. Afinal, quanto mais pessoas conseguirmos reunir, mais presentes vamos receber, não é mesmo? E há maior trunfo do que contar para todos que você conhece sobre a montanha de presentes caríssimos que você pagou pra lhe darem?

Ah, o natal. Em que outra circunstância no ano inteiro temos a oportunidade de dar as costas aos amigos que vem de outras partes do país, grandes figuras, colegas de trabalho que nos deram uma força o ano inteiro, para gastar um tempo de qualidade ouvindo as piadas inéditas de 1970 contadas pelo seu avô!

Não digo que não seja importante passar um tempo com a família, afinal, são as pessoas que estão sempre ao seu lado, mesmo nas piores circunstâncias, só estou dizendo que isso poderia ser feito de outra maneira. Mais civilizada, mais integrada entre as famílias, e desta vez sem a PORCARIA do peru maldito. Odeio peru de natal.

11 dezembro 2006

IBOPE

Já era a oitava vez que Douglas colocava em prática seu projeto. Estudante de jornalismo do sexto semestre, sempre se sentiu a vontade com o mundo da tecnologia. Tinha orkut, fotolog, msn, skype e usava todos os serviços, todos os dias. Na mesma metade do ano, decidiu iniciar um projeto audacioso: uma vez por semana, iria transmitir um webcast onde entrevistaria pessoas de sua convivência, que achasse que tinham histórias ou opiniões que poderiam interessar seus colegas. E como fazia sucesso. Centenas de estudantes assistiam o webcast toda a semana, segundo o painel de audiência ao qual Douglas tinha acesso.

Mas dessa vez, Douglas estava sem idéias. Não sabia quem selecionar. Já havia esgotado seu estoque de amigos que tocam em bandas, que viajaram para o exterior, experimentaram substâncias mágicas, tiveram experiências mediúnicas ou tivessem piadas muito boas. Convenientemente, uma das melhores amigas de Douglas havia se tornado noiva recentemente. Resolveu convidá-la, para homenageá-la e contar um pouco sobre as histórias de quando eram amigos de infância.

No final de semana, Mônica e Júlio, outro amigo de infância de ambos, chegaram ao estúdio improvisado na casa de Douglas para que fizessem a entrevista. O futuro jornalista preparou tudo para seus amigos: aperitivos, drinks, ar condicionado na temperatura certa e lugares confortáveis. Começaram a entrevista, mas logo Mônica percebeu que aquilo não ia acabar bem. Júlio e Douglas começaram a relembrar coisas que faziam parte da intimidade de Mônica, que nem mesmo seu noivo sabia. Não demorou muito e a moça, cansada de insistir que parassem, deixou o lugar. No momento em que a moça bateu a porta do lugar, Douglas soube que seu próximo programa teria uma enorme audiência, devido à polêmica que este causaria.

Com muito remorso, depois de perceber o que havia causado, Douglas foi pedir desculpas a Mônica, que a princípio não lhe deu ouvidos - com muita razão. E o garoto percebeu que desde o início, aquilo que vinha fazendo não agregava valor ao que aprendia, tampouco contribuia para seus colegas, apenas expondo as pessoas que ele prezava. E resolveu provar para Mônica e para os outros que possivelmente ofendera, que aquilo não significava nada para ele perto das amizades que estava pondo em risco.

Na outra semana, Douglas transmitiu a imagem de um ovo sendo frito até queimar, por 30 minutos. E teve a maior audiência da história de seu projeto. Não que lhe importasse mais.