31 janeiro 2007

Reflexos

Tania acordou ou caiu no sono, como todos os dias.

Foi até o banheiro e se olhou no espelho
Perguntou para si mesmo quem era
Respondeu sorrindo e seu reflexo ouviu
Olhou fundo nos seus olhos
E viu em suas pupilas lembranças de seu passado
Das loucuras que fizera
Dos amigos que a salvaram
Dos que a deixaram
Dos que zombavam das remelas nos seus olhos
Lavou o rosto
Estava nostálgica
Tomou os remédios
que destacavam o peso da idade sobre os ombros
Olhou o corpo mal-dormido
de camisola comprida, do pescoço até os joelhos
e tentou calcular quanto tempo fazia
que não vestia um vestido decotado
uma saia curta
um sapato aberto
E lembrou das festas de seu último emprego
onde os convidados a julgavam
com palavras azedas
Escovou os dentes
Sentou no vaso
e pela primeira vez percebeu
o quanto havia se limitado
por gente que lhe abria os braços
e enquanto acreditava receber um abraço
estava sendo proibida de passar
Ligou o chuveiro e se despiu
Se olhou no espelho
e decidiu que os desaforos que carregava na memória
eram mentiras
Se levou pra cama
e consumiu seu desejo por um eu melhor
Descobriu mais uma vez que se amava
E foi comprar um vestido
mesmo com o saldo zerado
da conta de uma recém-desempregada


Anita acordou ou caiu no sono, como todos os dias.

Foi até o banheiro e se olhou no espelho
Porque às vezes
o amor está a apenas um reflexo

17 janeiro 2007

15 janeiro 2007

Em um fôlego só

Me queima por dentro, me percorre as entranhas, me causa um inexplicável desejo de aumentar o volume da vida, como se eu sofresse ressonância de todos os seres vivos, como se pulsassem em mim todos os corações dos apaixonados ainda que eu não seja um deles (embora possa vir a ser), me faz acordar com a melhor e a pior sensação do mundo, que me faz querer tentar falar tudo isso que estou sentindo em um fôlego só.