14 agosto 2009

Right away!

It's got to start somewhere,
It has to start sometime.
What better place than here?
What better time than now?

11 agosto 2009

Change

E chega. Chega de viver tudo pela metade, de chegar tarde no trabalho, não aproveitar a manhã, de sair tarde do trabalho e não aproveitar a noite. Chega de poupar palavras pra não ofender ninguém, porque quem mais se ofende sou eu, ao deixar de dizer o que estou sentindo. Chega de meios amigos, chega de rolinhos. Se o que mais me interessa são as pessoas, não vou perder meu tempo com quem não retribui essa atenção. Chega de me estressar por besteira, por coisas que nem sei se tem algum sentido pra eu estar fazendo.

Não diria que este é meu dia do "basta", porque acredito que nunca é demais. Mas definitivamente é o dia do "ok, mãos a obra".

Beam me up, Scotty!

Se ao trocar todas as peças do navio de Teseu, ele deixa de ser o navio de Teseu, pense nisso:

Quando o capitão Kirk é teletransportado em Jornada nas Estrelas, seu corpo é desintegrado no lugar de origem e reconstruido no lugar de destino. Nada é realmente transportado. As moléculas utilizadas na reconstrução de seu corpo não são as mesmas que constituiam seu corpo originalmente. Ainda assim, ele retém sua personalidade, memória, etc.
O capitão Kirk continua sendo o capitão Kirk?

O Navio de Teseu & a conversa de bar

- Antigamente, havia um navio com o mesmo nome de seu antigo dono, Teseu, o grande herói. Com o passar dos anos, o navio foi ficando velho, e tiveram de substituir o mastro, as velas, partes do casco, etc. Depois de muito tempo, todas as peças haviam sido trocadas, e não haviam mais peças do navio original. Esse navio ainda é o navio de Teseu?

- Claro que não! Não tem mais nada do navio do cara lá, como pode ser o mesmo?

- Ah, cara, mas então em que ponto ele virou outro navio? Tipo, foi trocando, foi trocando, mas daí quando trocou a âncora, puf, dali em diante não era mais o mesmo navio?

- É, tem razão. É difícil dizer, acho que é coisa de senso comum mesmo. Mas pra mim não é o mesmo não, não adianta.

- Tem um cara que propõe uma resposta. Leibniz. Se quiser, dá uma olhada na wikipedia depois. É bem legal, mas é meio rígido, não dá abertura pra esse "senso comum" que tu está falando. O bacana é pensar nesse problema mas sobre pessoas. Todo mundo muda, mas até que ponto as pessoas ainda são as mesmas?

- Putz, curioso mesmo. Tu, por exemplo, mudou um monte desde a faculdade. Nem parece a mesma pessoa.

- Já tu continua a mesma mala... Teseu.

*risos*

http://en.wikipedia.org/wiki/Identity_and_change

16 julho 2009

Abstinência

Já fazia uma semana que ela estava limpa. Era viciada.

Difícil entender como é ficar sem algo pelo qual se anseia sem nunca ter vivido isso. E por isso que ela não conseguia conversar com ninguém sobre o assunto. É muito, muito difícil entender o que a abstinência faz com uma pessoa. A cada dia que passava, ela se movia menos na cama, afundando cada vez mais no colchão. A única coisa que poderia movê-la dali é sustentar seu vício. E a cada momento que passava, a recordação da experiência do vício se tornava mais vívida e tentadora. Quanto mais tempo afastada de tudo aquilo, menos importante parecia todo o resto ao seu redor. A televisão, o jornal, as coisas do dia a dia, nada mais tinha o glamour de anteriormente.

Ainda que gastasse o dia cozinhando, lendo, limpando, não fazia nada direito. Tudo aquilo só lhe fazia lembrar o cheiro, o gosto, a sensação que tinha enquanto estava completa, enquanto alimentava sua dependência. Inclusive, só se sentia independente nessas circunstâncias. E o tempo todo, seu objeto de desejo a observava de cima da mesa. Branco, imóvel.

Ela vira de lado. Pensa em falar com alguém sobre isso, mas a idéia só a fazia lembrar a coisa mais fácil a fazer. Ninguém iria entender, era mais fácil ceder. Na realidade, só não o fazia porque sabia o quanto aquilo a afetava, mas no fundo já havia cedido. Poderia tentar falar com a vizinha, mas lembrou o quanto a gaga lhe perturbava quando vinha entregar correspondência que chegava em sua casa por engano:

"Obriga-ga-do do-ona-ona! Boa tea-te-tarde."

Boa tarde, miserável. Também havia sua irmã. Sua irmã que jamais teve vício algum. Até duvidava se ela já tinha amado alguma coisa tanto quanto amava seu vício. Branco, sobre uma bandeja plástica, lhe fitando de cima da mesa. E sua personalidade confiante só a deixava ainda mais irritada.

Foi então que, perante a falta de alternativas, cedeu. Levantou-se da cama e foi fazer o que já ansiava a semana toda. Já se arrependia enquanto tirava do gancho o telefone sem fio, branco e com teclas de borracha. Até que aguentou bastante tempo sem utilizá-lo. Discou um número que já vinha memorizando a algum tempo para quando esse dia chegasse. Chamou algumas vezes, quando alguém a atendeu, do outro lado da linha:

"Boa tarde, gostaria de cancelar meu serviço de telefone... Por qual razão? Você tem tempo? Bom, é uma longa história..."