Parei no terminal, ainda cedo, e me dirigi à parada onde deveria pegar o ônibus que, agora sim, me deixaria em casa. E assim esperei, com mais duas mulheres carregando sacolas e um homem bem vestido.
Percebi a aproximação de uma garota carregando uma caixa. Ela abria-a periodicamente e colocava a mão dentro, como quem cuida de um filhote. Filhote de quê, pensei. E continuei esperando, receoso de perguntar o que era.
Duas crianças de rua me pediram trocados. Não tinha, mal tinha pra mim mesmo. Uma das mulheres as chamou e ofereceu balinhas. O homem, bem vestido, ofereceu 2 pães de queijo em um saco plástico, que vinham guardados na pasta executiva. O homem fez sinal para o ônibus que vinha, e nele subiram as mulheres e as crianças. O homem continuou esperando.
Ao meu lado, a garota continuava abrindo a caixinha de tempos em tempos, me causando uma curiosidade cada vez maior. Chegou meu ônibus; havia perdido minha chance. Mas para minha surpresa, tinhamos o mesmo destino.
No caminho, a curiosidade me consome e, uma parada antes da minha, ela desce. E continuei, receoso de perguntar.
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Entrei no meu prédio. Chegando em casa, me deparo com a parte mais bizarra do meu dia. Um menino loiro de uniforme do meu antigo colégio, usando pantufas e com uma notável espinha na bochecha esquerda me esperava na frente da porta.
"aqui não é a sua casa..." - falou, inocente
"como não?"
"eu sei, tu não
mora aqui. eu moro *incompreensível*" - falou enquanto se movia, ficando
parcialmente escondido por uma dobra da parede, como uma criança que brinca de
estar observando de um canto.
"mas eu moro aqui sim... tchau!" - abri a
porta e entrei em casa