05 maio 2006

Escolha simples

Acordou e tomou o café de sempre. Café, torradas e uma banana catarina, bem madura. Era uma manhã muito diferente das outras - domingo. Há tempos ela não via as ruas tão vazias. Até o ar lhe parecia diferente. Abriu a dispensa e alcançou o carrinho, limpando as teias de aranha. Fazia 5 anos que ela não ia à feira.

Na rua, já podia sentir o cheiro dos vegetais e frutas frescas. Vestia um vestido velho e sandália havaianas, bem confortável. De cara, encontrou uma banca cheia de frutas exóticas, possivelmente importadas. Parou por longos minutos, observando os produtos como uma criança descobrindo novos quitutes.

- Mulher bonita não paga, mas também não leva! - disse um feirante a ela, no auge de sua criatividade.


Pediu para experimentar tudo aquilo que nunca havia provado antes. De repente, lhe pareceu que sua boca sentia sabores inéditos, que seu paladar se abrira, como se suas papilas gustativas houvessem adormecido há anos atrás. Tudo parecia ter um gosto nostálgico de novidade. Queria levar TUDO! A pena era o preço.

Já estava na banca há horas. Mecanicamente, buscou o relógio no pulso esquerdo, mas ele não estava lá. Que bom. Saíra sem relógio, sem hora. Sua demissão de seu antigo emprego numa empresa de contabilidade parecia lhe ter comprado um bilhete só deida para a liberdade, e a essa hora, a última coisa que lhe passava pela cabeça era algum tipo de compromisso, bater o ponto, redigir um memorando.

Resolveu continuar andando e passou pela banca das verduras. Folhas verdes e brilhantes lhe lembravam as lindas saladas que foram servidas em sua festa de casamento. Ela havia se divorciado há pouco tempo. Ele pedira que ela estabelecesse prioridades, e ela estabeleceu. O trabalho. Bons tempos aqueles em que estiveram juntos, a salada, as palavras doces, o romantismo.

Ainda de carrinho vazio, procurou algo para levar para o café da manhã seguinte. Tinha dinheiro para pouco. Pensou em levar morangos, mas lembrou que teve alergia da última vez que os comeu. Podia levar uma das frutas exóticas que havia provado, mas, mesmo que todas fossem maravilhosas, nenhuma lhe tinha chamado atenção o suficiente para estabelecer uma favorita. Romã, Kiwi, Lima... Tinha medo de gastar dinheiro em algo que pudesse não gostar. Pensou muito...

No fim da manhã, ela voltou para casa. Largou a chave na mesa da sala, ligou o computador e viu a caixa de mensagens vazia. Sentiu saudades de quanto estava trabalhando. Recebia 20 emails em uma hora, e até que sentia prazer em se sentir útil. Voltou para a cozinha e tirou o pacote de dentro do carrinho de feira. Guardou cuidadosamente na fruteira o que havia comprado: um belo cacho de banana catarina.

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O jeito mais fácil de escolher entre duas coisas que lhe são muito importantes é não escolher.

3 comentários:

Anônimo disse...

Aeee!!
Eu jah tinha lido esta em primeira mão!
Mas naum tinha visto ainda o ultimo comentario.. q eh mtu foda

Depois d mais post eu ainda vo junta tudo, faze um livro e fica rica as tuas custas! hihihi...
;)

Anônimo disse...

aaaah, mas que diver!
tu escreve muitíssimo bem, não obstante tuas estórias me deixam deprê hahahaha
vou ficar refletindo aqui...
beijão, Dioguito!

Luiz Madeira disse...

É, drics, os posts do Fou tem o dom de deixar pessoas tristes mais deprimidas XDD Ainda bem que nã osou uma pessoa triste \o/ Bwahahha ehauehae

Agora, be... Essa idéia é mim \o\ Sai que eu já comprei os direitos dele aheuuae. Mas falando sério, se ele se informar, vai encontrar mais gente da região que escreve, poderá selecionar contos de todos e lançar uma "coletânea de contos" de PoA mesmo ou do RS quem sabe XD Só demora um pouco pra sair né, mas quem sabe não dá sorte e consegue lançar? Só ter vontade ;)

Quanto a esse conto, gostei também, demorou um pouco pra cair a ficha. Se você não tivesse colocado a moral no final eu iria deixar de pensar nessa parte e iria levar só a parte rotineira da coisa XD

Abraços FOuzes \o