21 janeiro 2006

18:50

[Post Categoria: Conto]

... bati o ponto.

- Boa Noite, Silvana! - e saí do escritório.

Saí do prédio, hora do rush. A rua, movimentadíssima.

À minha frente, a parada de ônibus. A rua, tomada de carros em uma tentativa de ultrapassar mach3 para chegar mais rápido em casa - frustrada, talvez pelo número de sinaleiras que havia por perto. Na calçada, altos executivos com pressa para entrar em alguma fila. Pessoas simples, donas de casa saindo de um mini mercado. Os vendedores das lojas de rua, contemplando o crepúsculo tricolor, para compensar a apatia da atividade naquela hora.

À esquerda, alguns funcionários carregavam móveis para fora de um caminhão - que atrapalhava o trânsito - para dentro de um prédio, fazendo a mudança de alguma família feliz para um novo apartamento.

À direita, um mendigo deitado sob uma marquiz, a frente de um bar.


Esperava o ônibus para ir para casa. Uma mulher sai do mercado com uma cesta de frutas e me lembra minha namorada: ela gosta muito de manga... Manga... Como posso sentir saudades, mesmo depois de poucas horas sem vê-la? Fico pensando em como ela me completa, o bem que isso me faz... No modo que ela...

- Com licença, meu bom jovem, poderia me informar as horas? - perguntou o
mendigo, com notável habilidade com as palavras.
- 18:50.


Desvio o olhar por um instante e vejo um ônibus do outro lado da rua.
Jardim São Pedro. Passa próximo à casa dela, e está indo na direção correta.
Ele para na parada correspondente a minha.
Neste momento, percebi o que eu deveria fazer.

Já estava na hora.
Há muito tempo eu já deveria ter feito isso. Eu deveria ir até lá agora mesmo, e dizer para ela o quanto ela é importante. Largar todas as superficialidades que me preocupam e dar mais atenção ao nosso relacionamento. Morar juntos. Casamento.

- Vamos logo filho! Ou vai perder o ônibus! - disse uma mãe para seu filho, de
uniforme do colégio.


Não! Como eu iria dizer isso assim, ao acaso? Como iria bater à porta dela, com o coração pulando para fora da boca, sem nem sequer uma flor? Tenho certeza da minha incapacidade de converter meus sentimentos em palavras, é algo que leva tempo.

- Em frente, Em frente! - gritava, autoritário, o líder dos funcionários que
agora traziam um enorme piano para fora do caminhão.


Ah, uma música, quem me dera se eu fosse bom com isso! Poderia tocar uma música para ela, um prólogo do que eu iria lhe dizer. Ah se eu fosse mais confiante! É tão simples, é como empilhar documentos, basta colocar esta tempestade de pensamentos em ordem, e eu conseguiria fazer isso perfeitamente. Ah se eu pelo menos fosse mais bonito, não precisaria de tanto trabalho para agradá-la, pois na dúvida, um sorriso resolveria.

- She loves you yeah, yeah, yeah - um jovem cantava, acompanhando seu mp3
player.


Agora sim. Vou entrar naquele ônibus. Percebi que não precisava de grandes presentes, que não precisava ter um discurso pronto, que não precisava ser melhor do que eu sou, que apenas deveria deixá-la ver o espaço que ela ocupava em meus pensamentos. Parece que tudo, todas, todos... Sejam lá que forças formam um pensamento, juntaram-se. Tomaram forma, e agora eu sabia palavras para cada uma das emoções que percorria meu corpo da cabeça aos pés. Eu te...

Alguém esbarrou em mim. Barulho de papéis voando.

- Desculpe senhor!


Virei, e me deparei com uma mulher maravilhosa. Jovem, de formas perfeitas e de um rosto que, sob a cor do céu, parecia não poder ficar mais bonito. Seus olhos claros, fartos de água, pareciam lamentar por ter esbarrado em mim, como se isso fosse causar uma catástrofe na minha vida.

- Não se preocupe, eu ajudo você a juntar! - respondi.
- Muito obrigado, o senhor é muito gentil. - retrucou, com voz de
choro.
- Está tudo bem?
- Mais ou menos, senhor, mas isso não importa. Olha, muito obrigado pela
ajuda, e mais uma vez, peço desculpas, mas parece que meu ônibus está chegando.
- ela apontou para a esquina, onde o ônibus que eu sempre pego para ir até em
casa estava vindo.
- Você também pega este? Por que não me conta no caminho? Sei muito bem
como é difícil passarmos por situações sozinho.


Ela aceitou.
Subimos no ônibus.
Parecia que ela tinha sido demitida da empresa onde eu fora contratado naquele mesmo dia, mas nada de grave.
Pelo resto do dia, fiquei com a sensação de ter esquecido de alguma coisa.

Mas depois eu me lembro.

3 comentários:

Luiz Madeira disse...

Fooodis fou! É sério, um dia vocÊ lança um livro de contos auhehahe.

EU penso no que aconteceria depois.. quando ele contasse que ele foi contratado... mas bem, isso não importa, não é pra isso que foi feito o texto \o XD

Abraços \o

Anônimo disse...

Concordo com qm comento ae em cima...
Jah falei mil vezes q tu depois tm q juntar os posts e fazer um livro... mas naum eh modo d dizer nem nada assim, tu realmente poderia fazer um livro dos teus contos.
Agora vo pro otro post. Qru ver o teste das cores :D

Anônimo disse...

o cara do she loves yeah yeah yeah
sou eu?
aheuhaeua =D